quinta-feira, 15 de março de 2012

Please upload

"Não há progresso sem mudança. E, quem não consegue mudar a si mesmo, acaba não mudando coisa alguma”. (George Bernard Shaw)
Nos finais de semana, pela hora que precede o gray-line costumávamos nos reunir em 20 metros, ali perto da banda americana; naquela época os americanos só podiam falar de 14200 para cima. Ficávamos ali reunidos: o Zequinha, PT7YS, o Carrato, PY4KL, o Arthur, PY4TK, o Natividade, PY1HX, eventualmente o Jaime, PY2CK e vários outros, todos grandes e implacáveis caçadores.
A conversa era sempre monotônica, mas nunca monótona: DX era invariavelmente o tema. Conversava-se de tudo: estações que estavam no ar ou então expedições previstas. As informações eram raras e difíceis de serem conseguidas, os boletins, que uns poucos assinavam, chegavam com muito atraso e serviam apenas como referência para conseguir um QSL ou outra informação, raramente como anúncio de uma expedição. Às vezes o assunto discorria sobre a forma de operar, como a nova mania recém surgida, a roleta russa, adotada por duas das mais recentes operações: Bouvet por 3Y5DQ e HZ1BS/8Z4, Zona Neutra.
Mas as conversas acabavam sempre descambando para os QSLs. Os mais antigos gabavam-se de possuírem preciosidades como Albânia, Burma ou a cobiçada China. Os veteranos diziam ainda: “quero ver vocês conseguirem um QSL de Pitcairn, vão ter que esperar anos para o Tom Christian se dignar a confirmar o QSO”. Ou ainda, quero ver vocês conseguirem um QSL do Haiti.
De fato, ficávamos todos enrascados em dois ou três países, que não conseguíamos confirmar. Trabalhá-los até que não era difícil, mas conseguir o QSL era outra história.
O quadro não mudou, mudaram as pessoas, o grau de dificuldade dos países variou mas as confirmações continuam sendo a parte mais difícil.
A incrível evolução tecnológica nos traz o QSL eletrônico ou e-QSL que funciona do seguinte modo: uma estação que queira confirmar o QSO com outra manda uma cópia do seu log, (chama-se upload) para um site na Internet. Em seguida o computador desse site manda um e-mail para você dizendo que a estação com a qual você fez o contato lhe mandou um e-QSL e pronto, está completo o processo. Você pode pegar o QSL eletrônico e imprimi-lo ou simplesmente deixá-lo lá para quando precisar creditá-lo em alguma instituição mantenedora de um diploma.
A ARRL, patrocinadora do DXCC, já se manifestou no editorial do Year Book de 2001 que está desenvolvendo um software para gerenciar o diploma DXCC com alimentação eletrônica. Digamos: uma determinada expedição a um país qualquer ao invés de confirmar os contatos através dos QSLs convencionais simplesmente faz upload do log para o computador da ARRL. Este recebe o log e já faz o crédito desse país para todos os participantes do diploma. Você não terá o menor trabalho, o país já lhe será creditado.
Quais as implicações deste novo processo? Quais as vantagens? Qual a segurança do processo? O que fazer? E quem não tem computador?
Como já foi dito, o tempo é o senhor da razão e irá demonstrar quais serão as vantagens e quais serão os prejuízos. Todo DXer é antes de tudo um colecionador: coleciona países, zonas, diplomas mas sobretudo coleciona cartões. Com as novas perspectivas, isto é, o fim do QSL, seremos apenas colecionadores de créditos, de números puros e frios. Terão esses números o mesmo valor que os QSLs?
À primeira vista até que parece bom, não teremos que desembolsar dinheiro para imprimir cartões, pagar selos, envelopes, IRCs, green stamps e de quebra ficaremos livres do terrível medo de perde-los no correio. Para o novo diploma, DXCC Challenge, a idéia é ótima, os créditos serão automáticos sem qualquer trabalho, uma maravilha. Mas com toda a certeza do mundo, é mais um encanto que se vai. Não se coruja mais, não há mais as rodadas de bate-papo e troca de informações e não haverá mais QSL. Valerá a pena caçar?
Arrectis Auribus
de PY2YP – Cesar

Um comentário:

  1. Só o post é antigo para que o lê agora como eu porém atualizado no assunto, digo isto pq pode aparecer um "purista" e me chamar de coveiro....
    Dr Cézar, para quem é radioamador de fato o escrito acima ainda vale. Claro que não há mais o assunto dos BO mas falamos de antenas, das expedições, de como antes a propagação era melhor, etc. E com certeza a evolução no shack continua e o computador é uma delas. Um amigo que se diz abestado em computador imaginem em informática, rendeu-se e hj até quando vai à praia leva um portátil. QSL tem que gosta, eu até gosto mas é uma despesa incrível, lento para confirmar, trabalhoso, incerto... e pasmo a cada OQRS que recebo (o Sr. pode até escrever a respeito) quando verifico que o cidadão já confirmou pelo LoTW....
    Me incluo no roll daqueles que gostam de confirmar novos "Países", de saber que cheguei lá e mesmo não tendo estação de HF própria tenho 170 deles confirmados e acreditem, falta CP e PY0F....
    73, Antonio - PY5AB.

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