domingo, 11 de março de 2012

A igualdade é injusta

Os homens são iguais, a única distinção é a diferença que existe entre eles. (Henri Monnier)
O sítio de Maracutaia da Serra vez por outra abrigava grandes discussões, nessas ocasiões os assuntos variavam desde o preço da arroba do boi gordo a questões politicamente importantes. Um conhecido e controvertido DXer sempre dava um jeito de expor sua admiração pelo regime monárquico o que literalmente incendiava a discussão. Todos os presentes tinham a mais absoluta certeza de que ele realmente estava a um passo da insanidade. Isto porque teve gente que jurava tê-lo ouvido pregando que um ex-presidente, que falava com um sotaque estranho, deveria ter sido coroado Monarca.
Desta feita porém, estavam todos circunspectos, taciturnos. O controvertido DXer, apesar de seus discutíveis posicionamentos políticos sempre expunha seus pontos de vista de forma muito clara, cartesiana, simples, incontestável. O assunto era da maior importância: estavam discutindo a iminente e gravíssima possibilidade de racionamento de energia elétrica. Ele estava anotando criteriosamente num papel o consumo de energia elétrica entre os presentes.
Vejam disse ele: “O Zé QRO se cortar quinze por cento da sua potência de transmissão continuará transmitindo com alta potência, o consumo mensal dele é de 950 kWh.” Já o nosso amigo PU ali ao lado, gasta 350 kWh por mês, continuou ele, isto significa que ele tem menos gordura para cortar, se o fizer vai sangrar.
O consternado PU disse: “Eu realmente não tenho o que cortar, vai ser um horror!” Lá em casa, continuou o PU, as roupas são passadas duas vezes por semana, os banhos são curtos e não deixamos luzes acesas em ambientes vazios. A economia lá não é imposição é um ato de consciência e um fator econômico, concluiu o ajuizado PU.
Papah Yankee que a tudo ouvia no mais absoluto silêncio fez a seguinte conta: – “Supondo que o Zé opere 16 horas por dia e consuma 2 kW de entrada em cinqüenta por cento do tempo, isto é, metade do tempo escuta e a outra metade transmita, mais 500 watts por hora para o transceiver, computador, iluminação, VHF, rotores e acessórios, teríamos um consumo na estação de 184 kWh; somando-se a um consumo de 450 kWh para o resto da casa, teríamos algo em torno de 650 kWh mensais. A pergunta é: “onde estão os outros 300 kWh?.
Todos olharam para Zé QRO que nada disse mas começou a resmungar algo como: “o medidor está com defeito, preciso falar com a companhia”. Zé levantou-se e disse que tinha que sair pois sua mulher o aguardava para ir a uma festa de aniversário, sua desculpa favorita para cair fora de situações embaraçosas.
O fato é, retomou Papah Yankee, que estão utilizando como desculpa os baixos níveis dos reservatórios para os erros cometidos na política de investimentos públicos no setor energético, para as falcatruas cometidas nas usinas termo-nucleares, com os altos custos de construção das hidro-elétricas e outros tantos erros que nos impingiram.
O grave disse tudo, continuou ele, é que o racionamento não será temporário, será permanente, a exemplo do rodízio de automóveis em São Paulo, onde utilizaram as questões ambientais como desculpa para o mau uso do dinheiro público nas soluções dos problemas de transporte coletivo, nos maus investimentos nas questões de trânsito.
O tratamento igual para os desiguais privilegiará os ricos. Os pequenos, como sempre, pagarão a conta. Isto vale também para as classes produtivas, as indústrias grandes simplesmente importarão as peças que necessitam de grande consumo energético para sua produção e, sem qualquer dúvida, ainda receberão incentivos governamentais para isso. As pequenas indústrias fecharão suas portas, não suportarão a concorrência predatória aumentando o desemprego. Enquanto isso lá no Congresso Nacional... Mas isto fica para outra ocasião.
Arrectis Auribus
de PY2YP – Cesar

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