sábado, 3 de março de 2012

Observando a natureza

O sítio de Maracutaia da Serra é um desses locais que todo DXer sonha ter. Localizado no topo de uma das mais altas colinas da região oferece uma vista de tirar o fôlego. A varanda da casa fica na direção da Europa onde há um imenso vale com um riacho no fundo. Nos dias de inverno o vale fica coberto por uma neblina espessa que impede a visão mas, devido a grande umidade suspensa, faz um duto ressonante próprio para as bandas baixas. Nesses dias é possível falar com a Austrália pelo caminho longo com S-9, sem QSB, talvez fosse possível até mesmo acoplar um phone patch e fazer alguns QTCs em 80 metros fonia antes do anoitecer. Papah Yankee estava sonhando com isso quando foi despertado por Zé QRO.
Desta vez não houve a costumeira invasão dos Piauis, Zé QRO viera sozinho e estava com o semblante um tanto quanto cabisbaixo.
Zé QRO era um desses operadores que liga o linear até para corujar. Para ele 1 kilowatt era coisa de maricas, QRP, próprio dos fracos e oprimidos. Ele acreditava firmemente que o mundo todo o discriminava e não ouvia seus sinais. Na sua bizarra forma de ver o mundo do DX não seria possível permanecer no Honor Roll a não ser a custa de muita potência.
A verdade era outra, ele realmente chegava forte e era atendido, mas era surdo como uma porta e não ouvia a estação de DX atender o seu chamado. Uma das suas mais marcantes características era estar no log de um país qualquer 3, 4, ocasionalmente até 6 vezes, no log. Grande potência e nenhuma paciência eram suas marcas registradas. O enorme coração e sua conhecida generosidade faziam com que fosse um dos radioamadores mais simpáticos e queridos em toda a região. Leal ao extremo não deixava de dar uma mãozinha aos iniciados, diziam até que um conhecido DXer, membro do Honor Roll, devia a ele mais da metade do seu escore. Pura maldade dizia ele, o povo fala muito você sabe. Jota QRP, seu grande amigo, vivia lhe puxando as orelhas: Zé não faça isso. Mas ele não se emendava, dizia apenas: Eu não resisti o DX estava lá dando sopa…
Entristecido ele disse para Papah Yankee: - Eu não sei o que anda acontecendo, eu não consegui trabalhar, em 80, nenhuma das últimas expedições. Acho que o pessoal não quer me atender, lamentava ele, convencido da maldade do mundo.
Papah Yankee então disse: Zé em 80 é preciso mais do que potência, é preciso humildade e esperar a hora certa. A última expedição de Willis mostrou que é preciso mais do que estação, foi preciso conhecimento, estudo, paciência e um pouco de sorte. Nessa faixa, continou Papah Yankee o cluster não adianta, é preciso voltar à moda antiga e corujar muito, esquecer o computador e ficar à espreita nas duas oportunidades, nas duas dobras da propagação.
Como você sabe o DX é muito parecido com o pintado, com a malária, discorria Papah Yankee. Nesse momento Zé QRO olhou espantando e pensou: “Os rumores da loucura dele parecem verdadeiros, o velho está mal.” Acho que vou fazer uma rifa para pagar um especialista e curá-lo.
Mas Papa Yankee continou: - Qualquer pescador sabe disso, o pintado só aparece na hora do pôr-do-sol e no alvorecer. Se você quer pescar porcaria, lambaris e bagres, passe a noite acordado mas se você quer realmente um DX de peso, um pintado, deve ficar atento nesses poucos minutos.
Eu trabalhei Willis em 80 no último dia da operação, nos pouquíssimos minutos em que havia possibilidade, relatava Papah Yankee. Eu havia me debruçado sobre os mapas de propagação e verificado que só haveria chance 20 minutos após o nascer-do-sol aqui do sítio. Por sorte Willis apareceu com um magnífico 579 e consegui o QSO.
O que você acha Zé? Eu estou pensando em esticar um fio de cada lado do vale, com 10 km de extensão, separado de 32 ondas de 160 metros e fazer um duto ressonante para fazer a zona 29 em 160 metros pelo caminho longo. Zé nada disse…
Arrectis Auribus
de PY2YP – Cesar

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