quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

A entropia é irreversível, felizmente.

Há alguns anos uma universidade paulista colocou a seguinte questão em seu vestibular: “Se colocarmos 100 casais de cães de diferentes raças em um ambiente fechado e considerando-se que a gestação do cão é de 8 semanas, qual será a raça resultante após 156 semanas? Justifique.”
A raça resultante é um cão muito parecido com o cão selvagem africano, mantendo todas as características caninas mas perdendo todas as características individuais de cada raça. Esta singular experiência destruiria, inapelavelmente, e em muito pouco tempo, o aprimoramento de características desenvolvidas ao longo de séculos e séculos.
Obviamente a descaracterização pela miscigenação vale para qualquer espécie incluindo os humanos. Se alguém tem dúvida e só dar um passeio num domingo à tarde na estação Roosevelt ou na estação rodoviária, ambas em São Paulo.
Vale ainda para qualquer atividade humana que tenha sido resultante da evolução de séculos e séculos de conhecimento arduamente adquirido. Imaginem misturar músicos de pagode em uma classe de aplicados alunos de música erudita, o resultado da composição final seria certamente alguma coisa falando sobre o derrière feminino acompanhado por oboés e fagotes em 3 movimentos, conforme determina o rigorismo clássico: xaxado ma non troppo, pedágio e rondó rebolante. Um horror.
É exatamente isto o que está acontecendo com o radioamadorismo: permitiram que cidadãos desprovidos de qualquer compromisso com o desenvolvimento da comunicação se imiscuíssem em nosso meio. Foi-lhes permitido o ingresso através de uma classe denominada faixa do cidadão. Em princípio, a idéia soa bem: permite que pessoas comuns possam “falar no rádio”. Não vão atrapalhar, argumentaram, o alcance é apenas local. Isto vai permitir que alguns deles possam interessar-se pelo verdadeiro rádio-amadorismo, continuaram na sua “inteligente” argumentação, que soa tão honesta quanto um prato de contra-filé de frango.
Para piorar, permitiram que essa gente fosse guindada à classe dos rádio-amadores, através de mecanismos estúpidos. Ao invés de promoverem o interesse e o aprimoramento, optaram pelo caminho mais curto: eliminaram as exigências e criaram a classe D. O argumento continuou o mesmo: “não vão atrapalhar, o alcance é apenas local…”
E lá veio a horda, a massa ignara constituída de vândalos radiofônicos (isso mesmo, eles conseguem apenas comunicar-se em fonia) destruindo tudo o que encontram pela frente. Você tem dúvida? Coruje 40 metros e ouça o festival de asneiras e palavrões. Coruje 12 metros e veja o que corre por lá. E os 10 metros? Aqui o caos é total. Com o ciclo solar alto os truculentos onzemetristas, ao avançarem pela faixa de telegrafia, propagam a selvageria nacional para todos os cantos do mundo que escuta estarrecido a pouca vergonha nacional: palavrões, grosseria e toda a sorte de besteiras. E ainda há quem os defenda! Uma vergonha.
Em 40 metros, ali por volta de 6.095 kHz, há uma rodada conhecida como faixinha. Fez escola. Radioamadores devidamente licenciados ali acorrem para aprimorar o sujo repertório. Alguns deles freqüentam ambas as freqüências: a da faixinha e uma outra em 40 metros. Ilustrados pelos seus pares lá de baixo e com o vocabulário devidamente enriquecido mudam para os 40 metros e despejam o conhecimento adquirido. Pior, ensinam aos novatos como é o “rádio moderno”, como devem ser destruídos os valores que rotulam, descaradamente, como ultrapassados. O descalabro é total.
O resultado final da triste miscigenação não é apenas a descaracterização de um produto evolucionário, é o retrocesso. Pudesse a entropia ser revertida, contrariar a segunda lei da termodinâmica, e teríamos a realização da mais temível ameaça ao universo: a involução. O processo evolutivo não pode ser revertido mas pode cessar e permitir a extinção das espécies. Os registros históricos são pródigos em fatos dessa natureza. Estaremos neste momento assistindo o fim de uma classe? Seremos nós radioamadores, em breve, apenas um registro histórico?
Arrectis Auribus
de PY2YP – Cesar

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