segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Á esperado do milagre

Não basta dar os passos que nos devem levar ao objetivo, cada passo deve ser ele próprio um objetivo em si mesmo.( Goethe)
A súbita mudança de tempo pegou-os desprevenidos. O bimotor, com um motor embadeirado, não resistiu aos fortes ventos: o pouso forçado era inevitável. O piloto habilmente consegui pousar numa clareira, danificando completamente o avião mas todos se salvaram com pequenos arranhões e alguns hematomas, é verdade, mas ainda assim nada grave. O rádio não estava operando e não haviam conseguido contato com estações da aeronáutica. Haviam decolado de uma obra no interior da Amazônia com destino a Manaus, mas a imensidão da floresta os havia engolido.
Após deixarem o avião, ou o que restava dele, reuniram-se e puseram-se a olhar o céu à espera da ajuda salvadora: a FAB, algum milagre, qualquer coisa que os tirassem dali. Os dias passaram e nada de ajuda dos céus, nenhum barulho de avião ou qualquer outro sinal. O mutismo dos céus era aterrorizante. Por sorte havia água e a selva lhes estava fornecendo alguma alimentação.
Ninguém soube como havia começado mas, de súbito, lá estavam eles engalfinhados em violentas discussões culpando-se mutuamente. Culpa do piloto, bradavam uns. Foi o seu atraso que nos colocou nesta situação, se tivéssemos decolados ao alvorecer nada disso teria acontecido, retrucava o piloto. E as discussões prosseguiam de forma cada vez mais perigosa e inócua.
Finalmente, cansados, desgastados da caótica situação, acalmaram-se, ou talvez os impropérios haviam se esgotado. Reuniram-se ao pé do fogo que alguém havia providenciado lembrando-se dos seus tempos de escoteiro e puseram-se então a buscar uma solução. Decidiram que o engenheiro, versado em geodésia e astronomia, acompanhado do ex-escoteiro, iriam em busca de socorro, orientando-se pelas estrelas, sol, limbo das árvores ou por outras indicações que a natureza oferece aos que sabem dela se utilizar.
Ao cabo de algumas semanas o socorro veio e todos foram salvos, alguns quilos mais magros, mas saudáveis e amadurecidos pela dura lição que a vida os impingira.
A sociedade brasileira está da mesma forma passando por uma provação parecida. Ficou anos e anos à espera do Messias que não veio. O homem collorido foi o último deles. Está há anos culpando a tudo e a todos: ora o Presidente, ora o Governador, ora o Congresso, mas nunca a si própria, que é a real culpada. Culpamos as instituições e vemos imbecis com ar de douto dizendo: “essa situação é produto da nova ordem vigente e… blá, blá, blá”. Só não vemos é a busca da efetiva solução dos nossos problemas. Ainda estamos no estágio 2, o das acusações tolas, irresponsáveis e infrutíferas.
Nós, radioamadores, estamos na mesma situação, ora ficamos à espera da fiscalização da Anatel ora culpamo-nos a todos. Dizemos: a culpa pela existência dos clandestinos em 10 e 12 metros é sua, que foi caminhoneiro. Ou: a culpa é sua, que não utiliza os 10 metros. A discussão prossegue, acalorada, apaixonada e inútil.
Porque não nos organizarmos e tentarmos uma solução para os nossos problemas? Algo como propor um convênio entre a Labre e a Anatel? Ou mesmo uma denúncia escrita, formal, ao agente fiscalizador? Ou, talvez, até mesmo escrevermos para o nosso deputado ou senador cobrando-lhe providências políticas junto à Anatel, à Polícia Federal, à Polícia Rodoviária? Se estes não dispuzerem de instrumentos legais para dar cobro ao pedido, que os políticos promovam tais meios.
A vinda do Messias não acontecerá, ninguém virá dos ceús para expulsar os clandestinos. Discussões procurando culpados não resolvem. Discussões só produzem efeitos quando acontecem sob a égide da razão, da busca de soluções.
Precisamos urgentemente, e a qualquer custo, passarmos para o estágio 3, o do trabalho, sob pena de, se não o fizermos, sermos banidos das nossas próprias faixas.
Arrectis Auribus
de PY2YP – Cesar

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