sábado, 11 de fevereiro de 2012

O show do milhão

Contra a estupidez até mesmo Deus é impotente (ditado alemão).
Outro dia fui ao correio postar uns QSLs diretos para Omã, Qatar e outros países. Estarrecido, vi que a moça do correio não conseguia estabelecer a tarifa. Disse-me ela: “Aonde fica esse país Middle East?”.
– Oriente Médio não é país é região, e o país é Omã que fica no Middle East. Me dê um selo para o Grupo IV que está tudo certo, respondi.
Mais alguns dias e fui a outra agência do Correio e o atendente lascou: “Norway, que país é esse?”
– Cobre Grupo III, respondi sem paciência.
Uma rede de televisão esteve recentemente apresentando um programa chamado o Show do Milhão. Nesse programa o candidato a ganhar um milhão de reais deve responder algumas perguntas com um certo grau de dificuldade que vai aumentando à medida que seus acertos se sucedem. Para participar o candidato deve comprar uma revistazinha sem graça, e esperar ser sorteado, contribuindo assim para o enriquecimento do risonho apresentador. Até aqui nada de novo.
O feliz candidato pode pular três perguntas, contar com o auxílio dos seus consortes, de um baralho com quatro cartas e de um grupelho de universitários que lá acorrem para acudir, numa única vez, o candidato em uma questão mais difícil. É aqui que está o perigo.
Com a propagação muito ruidosa e pouca atividade em 80 metros (minha mais recente mania) comecei a assistir o festival de besteiras. Fiquei realmente impressionado, não com o nível dos candidatos, de vez que os que lá aparecem é o resultado estatístico das vendas desse tipo de promoção entre as camadas menos favorecidas economicamente.
O que me impressionou, e muito mal, foi o nível dos universitários. Esses estudantes são provenientes de universidades de todo o Brasil e lá comparecem, a convite do Risonho, como forma de divulgar a universidade que os seleciona entre suas melhores cabeças.
Numa dessas vezes foi perguntado o que é um are, e entre as estapafúrdias alternativas estava lá a correta. O que me deixou de cabelo em pé, brancos é verdade, mas que ainda ficam em pé, foi a resposta dos infaustos universitários: “nunca ouvi falar” lamentou um, “não sei o que significa” queixou-se outro e o terceiro, disse audaciosamente: “não sei o que é mas chuto a alternativa 2”.
Fato isolado? Não, as mais das vezes os tais universitários de, repito, diferentes regiões, não conseguem acertar questões do dia a dia de qualquer estudante. Por serem eles de diferentes pontos do país, representam um hediondo quadro estatístico e nos confirma o deplorável status quo do ensino brasileiro.
Imaginem ser operado por um médico desses, é morte certa. Ser defendido por um advogado desse calibre é cadeia na certa, seja você culpado ou inocente, tanto faz.
O caos já se instalou, os prédios ruem a todo momento, seja no Rio de Janeiro, São José do Rio Preto ou em qualquer outro lugar.
As crianças morrem em hospitais, os idosos contraem infeções terríveis por terem sido submetidos a um tratamento qualquer. Morrem por descuido, por imperícia, por ignorância de quem deveria cuidá-los. A ignorância grassa, campeia, ceifando vidas em todos os Estados, o tempo todo, está nos jornais.
Nós, que já estamos do meio dia para a tarde, de uma forma ou de outra escaparemos desse estado de coisas que os políticos inconseqüentes e demagogos nos impingiu. Mas e os nossos filhos? Nossos netos? Serão eles tratados por seus pares? Que sorte lhes está sendo reservada?
Lembro com muita tristeza do tempo em que os advogados sabiam escrever, os engenheiros sabiam calcular, os médicos sabiam prescrever e os empregados do correio conheciam geografia e não prejudicavam nossas confirmações. Fico triste em pensar num futuro que está tão próximo.
Arrectis Auribus
de PY2YP – Cesar

Nenhum comentário:

Postar um comentário