quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

PSE QRX

Papah Yankee estava lá na varanda do seu sítio em Maracutaia da Serra pensando como seria a propagação durante o ciclo 23, quando avistou lá embaixo um carro subindo a colina. – Vamos ter visita, observou ele.
Num instante estavam todos lá falando sobre antenas, pile-up, dicas de operação, quando um PU comentou estar com sérias dificuldades para trabalhar uma estação do Pacífico:
– O sinal dele é forte mas o pile-up não diminui e isso está me impedindo de trabalhá-lo, disse ele.
Um PY recém promovido a classe A, disse com um certo ar de superioridade: “Você precisa colocar 1 kilowatt e uma monobanda, assim você vai conseguir”. O noviço replicou: – Como? Não tenho dinheiro para isso, tudo o que tenho são 100 watts e uma tribandinha, continuou ele.
Papah Yankee então disse, do alto dos seus anos de pile-up: – Mais do que suficiente. Todos ao redor olharam para ele surpreso, e ele então começou a narrar:
Clipperton, iniciou ele, estava em primeiro lugar na lista dos países mais procurados, quando, após mais de 20 anos de espera, finalmente, em 1978, foi anunciada uma grande operação liderada por um grupo francês.
Os big-guns exultavam, vamos chegar ao Top Honor Roll, alegravam-se. A excitação era geral.
Enfim o grande dia chegara, o pile-up era monstruoso, algo nunca visto. Em fonia, a estação FO0XC estava estacionada em 14180 ouvindo de 14200 a 14250 e o pile-up era ensurdecedor. Em CW a confusão não era menor, parecia que o mundo estava alucinado.
Clipperton fica no Oceano Pacífico e razoavelmente próximo da Califórnia, o que significava que os W6 poderiam colocar sinais tão fortes a ponto de queimarem as antenas da DX-pedition ou mesmo danificar os receptores!
O quadro, para os brasileiros sem grandes antenas, era trágico, alguns chegaram a pensar em rasgar os pulsos e desistir do DXCC, os dias estavam passando e não havia como trabalhá-los, a agonia havia substituído a excitação inicial.
J. QRP, estava tentando trabalhar e obviamente, a exemplo de muitos, não estava conseguindo. Ele chamava alucinadamente, atirando seus miseráveis 5 watts para todo lado, parecia estar ensandecido, sua tribandinha não melhorava muito a situação. Como furar o bloqueio americano com uma estação dessas? Uma noite, ao final de umas boas horas, ele resolveu parar um pouco, lavar o rosto para se recuperar quando, subitamente teve uma idéia: Vou corujar! Em algum momento eles vão ter de trocar de operador e eu vou chamar na frequência da última estação trabalhada, raciocinou ele.
Voltou ao rádio, e começou a ouvir, ele usava um velho HQ-129 na recepção e um TX caseiro com 5 watts. O batedor era um daqueles pesados utilizados na estradas de ferro, presente de um tio que se aposentara como telegrafista da São Paulo Rail-way. J. QRP ficou durante um bom tempo corujando cada QSO até que finalmente o operador bateu: PSE QRX 4 PEE HI.
O silêncio tomou conta da faixa, parecia que todos haviam resolvido fazer a mesma coisa. J. QRP colocou o transmissor em 21053 exatamente onde um japonês tinha acabado de transmitir e pôs-se a aguardar. Após alguns minutos o alto falante do HQ-129 deu sinal de vida, alguém havia batido um sinal de interrogação e imediatamente J. QRP transmitiu: FO0XA DE PY2QRP PY2QRP. Não houve resposta, ele então bateu de novo: FO0XA DE PY2QRP PY2QRP e ouviu: PY2QRP DE FO0XA 539 539 BK. Ele prendeu o folêgo e bateu: R TNX FER QSO UR 599 73 DE PY2QRP BK. Finalmente após incontáveis horas J. QRP estava no log.
Arrectis auribus
de PY2YP – Cesar

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