sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Ouvindo música?

“Doido é aquele que perdeu tudo, menos a razão.”
O veterano DXer estava ouvindo uma sinfonia e não se dignou sequer a abrir os olhos quando as suas costumeiras visitas chegaram, tudo o que fez foi acenar ao ruidoso grupo indicando para que fizesse silêncio e se acomodasse.
Todos obedeceram e ficaram a ouvir a música de Beethoven. Permaneceram no mais profundo silêncio até o último acorde quando então Papah Yankee abriu os olhos e cumprimentou-os. Jota QRP então perguntou: “Que obra é essa?”
“A sinfonia número 5 de Beethoven”, respondeu ele, “achei que estava precisando melhorar minha capacidade de recepção em 80 metros e resolvi treinar um pouco. Na verdade”, continuou o veterano DXer, “não estava ouvindo a música em seu todo, estava mesmo treinando QRM e pile-up.”
Os PYs e PUs ali presentes entreolharam-se e passaram a duvidar da sanidade mental do velho mestre. Um PY, recém saído da pobre condição de PU, pensou: “Espero não ficar decrépito assim!”. Mas nada disse, apenas observou. Um outro, mais velhaco, perguntou, cuidando para que a entonação de voz não o traísse: “E como é treinar recepção em QRM ouvindo música?”
Papah Yankee fitou-o nos olhos, à procura de algum sinal de ironia, dirigiu-se ao aparelho de som, comandou o início da sinfonia, pegou na estante a partitura da obra e passou a explicar:
“Todos aqui, conseguem distinguir entre o timbre de um oboé e de uma clarineta? Ou a diferença entre a tessitura da viola e do violino? Quando eu sinalizar com a mão esquerda vocês ouvirão um oboé, quando eu sinalizar com a direita, uma clarineta.” Alguns, os melhores telegrafistas, rapidamente perceberam a sutil diferença, outros pediram para repetir e ficaram todos atentos aos sinais de Papah Yankee que ia levantando ora um braço ora outro e, às vezes, os dois. Fez o mesmo com a viola e o violino, mesmo os melhores ouvidos tiveram dificuldade de encontrar a sutil diferença, mas depois de identificada, e após algum treino, constataram que os diferentes timbres e tessituras é que dão colorido à música sinfônica, como num pile-up onde alguns russos, operam com equipamentos que produzem sons com timbre próximo ao de um fagote ou de um tuba que parece ter deficiência no filtro de 60 Hz da alimentação.
“Para treinar recepção em pile-up, ou quando a banda está muito congestionada, continuou ele, o segredo é fixar a atenção em apenas um sinal, memorizar o seu timbre e ‘apagar’ os outros sinais. A forma mais agradável de treinar essa situação é, sem dúvida, substituir o ruído da faixa por música. Algumas vezes, ouço uma sinfonia inteira, copiando apenas os violinos, chego mesmo a esquecer que há toda uma orquestra congestionando a ‘banda’. Acho muito divertido”, finalizou o velho.
“E para treinar QRQ, existe algum tipo de música em especial?” Perguntou um PY, visivelmente entusiasmado. “Sim”, respondeu Papah Yankee, “vamos ouvir o último movimento da sonata em lá maior de Mozart, K-331, mais conhecido como Marcha Turca. Nesse movimento, allegreto, são utilizadas semicolcheias e fusas”, continuou ele, “a velocidade dessas notas ajuda a desenvolver a capacidade de acompanhar a melodia em alta velocidade, algo como se ‘acordasse o cérebro’, desembotando-o. Mozart”, prosseguiu, “se tivesse nascido neste século, seria um grande telegrafista sem dúvida alguma, a sua música desenvolve o lado esquerdo do cérebro, por onde entra a telegrafia”, concluiu Papah Yankee.
Um PU que relutava em aprender CW abanou a cabeça pensando: “O velho ficou louco, definitivamente.”
Arrectis Auribus
de PY2YP – Cesar

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