terça-feira, 3 de abril de 2012

Tudo pelo social

Desconheço o que o amanhã me trará. (Fernando Pessoa in extremis)
Seu dia, 30 de Novembro de 1935, havia chegado. A hora era a hora da morte, da elucidação dos mistérios da fé. A luz estava a lhe faltar, a vida estava se esvaindo; pediu os óculos e escreveu, em inglês, sua última frase: “I know not what tomorrow will bring”. Naquele instante haviam acabado as dores na alma de Fernando Antônio Nogueira de Seabra Pessoa, um dos maiores poetas da língua portuguesa. Com ele morreram ainda Ricardo Reis, Alberto Caeiro e Álvaro de Campos, seus heterônimos.
As dores dos cidadãos brasileiros estão muito longe de acabar; vivemos, por obra e graça dos maus políticos, uma das piores quadras da nossa história.
As minorias organizadas estão a impor suas pretensões que o governo, politicamente covarde, erroneamente lhes concede. Governa-se pela minoria, governa-se pela covardia e pela destemperança. “Tudo pelo social” é o mote.
Ninguém sabe como começou, mas aos poucos as bicicletas começaram a aparecer na contra-mão. Os imbecis com suas caras de doutos, marca registrada dos idiotas, começaram a andar no contra-fluxo do tráfego argumentando: “É mais seguro, eu vejo o perigo de frente”; e não falta quem lhes dê razão. Os pobres ciclistas desconhecem a mais simples das leis da física: velocidades em sentido contrário somam-se. Morrem aos borbotões. Basta andar pela cidade de São Paulo e verá um ciclista morto por dia. Eles não vêem o perigo pela frente, vêem a morte quando é tarde demais. Morrem pela ignorância, pela estupidez. As autoridades nada fazem.. A imbecil idéia de andar na contra-mão fez carreira, agora andam na rua carrinhos de bebê, cadeiras-de-rodas, carrinhos de supermercado, e tudo o mais que tenha rodas, claro, todos pela contra-mão. O motivo? As calçadas foram tomadas pelos camelôs com a anuência do governo. Tudo pelo social, dizem os nossos politicamente covardes governantes.
As motocicletas andam por entre os carros com o beneplácito da lei, o Código de Trânsito Brasileiro em seu artigo 56 lhes proibia, mas os fabricantes de motocicletas argumentaram que o desemprego seria grande, a categoria dos moto-boys seria prejudicada. O governo, velando pela minoria, anuiu; vetou o artigo 56. Morrem os pedestres atropelados pelas motos, mas isso não é importante, os mortos não se organizam, nada reivindicam e não são ouvidos. Aos mortos só lhes restam doar seus órgãos como exemplo de cidadania. Morrem com dignidade, assassinados pelo descalabro que tomou conta do país. “Tudo pelo social”.
Os perueiros incendeiam ônibus, tomam as ruas e zombam das autoridades e nada lhes acontece. O governo acuado brada: “Tudo pelo social”.
As ligações elétricas clandestinas, os gatos, propagam-se como praga; na Bahia atingem a marca de 16,5%, no Rio de Janeiro atendem a milhões de habitantes. O governo nada faz, exige racionamento de quem paga, das ligações regulares. Os gatos? Estes ficam impunes e livres de contas e cotas. “Tudo pelo social”.
Os traficantes, utilizam as freqüências de rádio com seu HTs, os entregadores de pizzas, os manobristas, os seguranças particulares usam as freqüências de VHF com a maior cara-de-pau. Estão impunes, o governo os ignora e lhes dá guarida: “Tudo pelo social”.
Os caminhoneiros usam as nossas freqüências, expulsam-nos dos 12 metros, dos 10 metros, ou de qualquer outro lugar. Fazem parte das minorias organizadas, portanto nada lhes acontece. Aos caminhoneiros juntam-se os perueiros, os pescadores em 80 metros, os fazendeiros, e quem mais quiser. A fiscalização, é claro, só atua sobre os radioamadores licenciados. “Tudo pelo social”.
O caos instalou-se, a sociedade agoniza, o país está à morte por falta de energia e o governo ostenta sua postura favorita: “Desconhecíamos a gravidade da situação”. O governo, em todos os níveis, zomba da sociedade, debocha da maioria desorganizada. Desgraçadamente desconhecemos o que o amanhã nos trará mas teremos que enfrentá-lo.
Arrectis Auribus
de PY2YP – Cesar

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