quarta-feira, 11 de abril de 2012

A antena ideal

Valorize suas limitações e não se livrará delas. (ditado alemão)
Era uma daquelas tardes quentes do verão, daquelas em que os pássaros, com medo de queimar os pés, recusavam-se a sentar nos elementos das enormes monobandas que ficavam no alto do morro no sítio de Maracutaia da Serra. Elas fiicavam ali, solitárias e silentes contemplando o enorme vale, com seus ares de superioridade.
Papah Yankee nessa hora do dia, próximo ao cair da tarde, quando as bandas estão abertas, tinha por hábito dedicar-se à leitura. Deitado ali na rede ele podia ficar olhando as antenas e ficar imaginando que sinais estariam chegando. Nada que preste, resmungava ele, bandas altas são para principiantes, essa espécie de gente que fica contente quando trabalha alguma coisa do Oriente Médio ou alguma ilhota do Pacífico. Levantou os olhos e viu que Jota QRP estava chegando para o costumeiro bate-papo em companhia de um velho conhecido freqüentador das bandas baixas.
Eles chegaram, cumprimentaram o veterano DXer e sentaram-se. Papah Yankee estava bem humorado e convidou-os para corujarem juntos a sacrossanta hora do grayline. Como ainda faltavam alguns minutos para o sol cair puseram-se a conversar sobre o tema preferido: antenas.
Jota QRP iniciou a conversa dizendo que havia corujado uns radioamadores em 40 metros que estavam a ponto de trocarem insultos, um defendia as yagis, outro as cúbicas e um terceiro dizia que não havia nada que se comparasse a uma vertical à beira-mar. As opiniões variavam, bem como variavam os casos, um dizia que havia trabalhado um país no meio de um terrível pile-up com uma simples monobanda de 3 elementos ao passo que um outro que estava com uma cúbica de 4 elementos estava apanhando feio, e ainda assim, prosseguia o primeiro minha yagi está baixa, imaginem se estivesse alta.
É interessante isso, observou Papah Yankee, se vocês prestarem atenção, certamente ouvirão casos onde uma antena se sobressai em relação a outra em uma dada circunstância. Como a ignorância dessa gente é tão profunda quanto uma fossa abissal, eles nunca saberão as verdades dos insondáveis mistérios da propagação e também nunca desvendarão os eternos enigmas das antenas.
Ainda outro dia, continou Papah Yankee, “eu estava corujando uma estação localizada numa ilha do Pacífico que estava operando, em fonia, em 15 metros com sinais de S8 na minha yagi que está bem alta e tem ângulo de irradiação baixo. Na mesma hora, e na mesma ilha, havia uma outra estação em telegrafia com sinais miseravelmente fracos, ligeiramente acima do ruído, algo em torno de S2. Eu simplesmente virei a chave de antena para um Vê invertido que uso em 40 metros para contatos locais e o sinal dessa estação subiu para S-4, perfeitamente trabalhável.
O que ocorreu é que a estação de CW estava operando em um ponto da ilha, atrás de um paredão enorme que bloqueia o sinal para a América do Sul, ao passo que a estação de SSB estava no alto de um morro com boa visibilidade para nós. Assim, uma antena com ângulo de tiro alto tinha melhor rendimento para a estação que estava oculta.
Em verdade, ensinou Papah Yankee, não existe antena ideal, existe uma antena indicada para cada situação de propagação e de localização. Vejam como as grandes estações de concurso trabalham, elas possuem duas ou três configurações diferentes para cada faixa, com ângulos de irradiação diferenciados, onde podem, ao simples toque em uma caixa de fasamento, variar o ângulo de tiro. É claro que essas configurações são caras e exigem muito espaço, e não estão ao alcance da maioria das estações, mas ainda assim, podemos, dentro das nossas limitações, fazer uma ou outra variação para cada situação. O importante, finalizou ele, é ter consciência do comportamento da propagação e procurar a melhor forma de utilizar os recursos disponíveis.
Arrectis Auribus
de PY2YP - Cesar

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