quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Pile up - Parte I

No começo dos tempos os DX só eram feitos essencialmente em telegrafia, embora os QSOs em fonia já fossem possíveis em amplitude modulada, o que se usava mesmo era o bom e confiável CW. Os países não eram contados, não havia DXCC e não havia tanta competição. A revista QST de Outubro de 1935 trouxe um artigo entitulado "How to Count Countries Worked. A New DX Scoring System" escrito por Clinton B. DeSoto, começava nesse instante a interminável corrida à glória de todas as glórias: atingir o pináculo, o topo. Aliás, a corrida propriamente dita só pôde começar em 15 de Novembro de 1945, por impedimento decorrente da 2a. Grande Guerra.
A década de 50 trouxe maravilhas para o DX, um excepcional ciclo solar e uma interminável sucessão de avanços tecnológicos, aprimoramento de antenas, transmissores mais estáveis, receptores mais sensíveis e o surgimento da maravilha dos foneiros: the single side band. Agora sim, até mesmo os foneiros podiam fazer DX. Este invento foi a lona do circo que começava a se armar.
Nesses primeiros anos as expedições eram modestas, levadas a cabo por um par de operadores, não raramente operações solo por algum aventureiro ou por alguém que iria trabalhar pelo exército britânico.em lugares exóticos como Kamaran, Sikkim ou Sumatra, afinal naqueles anos o sol não se punha no império britânico.
Se do lado dos expedicionários as coisas não eram fáceis, do lado gerador do pile-up as coisas, igualmente, eram difíceis. Não haviam informações, os boletins eram poucos e quando chegavam às mãos dos DXers, nas mais das vezes, as notícias já estavam superadas. Localizar um manager era uma tarefa dificílima, os mesmos ingleses que operavam em lugares estranhos não se davam ao trabalho de designar um manager, cobrar um QSL de Kamaran via rádio club inglês era um exercício de muita paciência e maior sorte. O Vicentinho, PY2ELV, levou anos para receber um QSL de AC3PT, o operador era rei de Sikkim, Palden Thondup Namgyal; ele foi preso depois da invasão chinesa e pagou o QSL da cadeia. Esse rei, Palden, era casado com uma americana e inspirou o filme "O rei e eu" estrelado por Yul Brynner.
Os pile-ups embora menos intensos tinham suas dificuldades próprias da tecnologia da época, a esmagadora maioria dos operadores tinham transceivers que ficaram bastante populares depois da chegada do SSB, e nem todos tinham VFO remoto. As linhas separadas, também eram difíceis de operar split, a mais famosa delas a cobiçadíssima linha Collins tinha uma característica terrível, para melhorar o desempenho e a linearidade do VFO cada banda tinha no máximo 200 kHz. Em 20 metros a banda americana em fonia começava em 14.200; o DX colocava seu transmissor em 14.195 e dizia: listen 5 kc and up. O pobre proprietário da linha Collins tinha que colocar o TX em 14b e o RX em 14a, resultado: o infeliz não conseguia ouvir o retorno do pile-up sem mudar o receptor de banda, correr o VFO para a banda 14b e voltar para a banda 14a a fim de ouvir o DX. Surgia dessa dificuldade a grande obra da engenharia: a linha Drake que conseguiu a mesma linearidade no VFO usando permeabilidade, o núcleo de ferrite corria por dentro da bobina, grande sacada, sem dividir a banda, ouvia de 14.000 a 14.500 kHz. Além disso era possível ouvir o retorno do DX pelo VFO do TX, isso mesmo, podia-se operar: transceiver pelo receptor, transceiver pelo transmissor e separado, recepção pelo RX e transmissão pelo TX. Sucesso total, 9 entre 10 membros do Honnor Roll eram possuidores das linhas Drake.
Depois vieram os transceivers com recepção transistorizada, as válvulas, poucas, somente aqui e ali e no tanque final, e os pile-ups foram aumentando.
Nos tempos das expedições pequenas, os pile-ups em geral eram na mesma frequência, os operadores se aquietavam quando o DX batia qualquer letra que não fosse do seu indicativo, não havia o DX Code of Conduct, não era preciso.
Nas décadas de 60 e 70 haviam grandes operadores que faziam suas expedições solo: SM0AGD, VK9NS, DJ6SI, DK7PE, SM7PKK e vários outros, levavam um transceiver, um manipulador, antenas de fio e muita dedicação.
73 DX de PY2YP - Cesar

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