terça-feira, 17 de julho de 2012

CQ test

Há alguns dias um PY disse a um amigo comum que havia trabalhado S79RR em 40 metros para um all time new one mas que estava em dúvida se poderia ter sido algum pirata. Esse amigo comum me retransmitiu sua dúvida ao que respondi: diga para o nosso amigo que ele está no log, eu escutei o QSO dele e o operador é mesmo o DJ9RR, a letra é dele e a maneira de operar é a mesma do QSO que fiz em 12 metros. Ouvir música ajuda em situações como essa.
Os conhecedores de música clássica são unânimes em dizer que Bach foi um dos maiores, senão o maior dos compositores em todos os tempos. Bach além de ter escrito uma obra imensa, mudou a música clássica e é considerado o divisor de águas da evolução musical, quanto a isto não resta a menor de todas as dúvidas. Dentro de suas inúmeras obras uma delas se destaca para estudos teóricos mais avançados: as variações Goldberg.
A variações, ou variação no singular, é uma técnica de alteração de forma onde o tema principal é alterado em várias repetições, pode-se alterar a harmonia, o ritmo, a melodia, o timbre ou propor um contra-ponto. Para quem não é muito familiarizado com este tipo de composição sugiro ouvir as variações Diabelli Opus 120 de Beethoven e as variações da sonata em lá maior K-331 de Mozart, ambas imperdíveis. O único perigo é pegar gosto pelo classicismo e perder a tolerância com essas porcarias que andam por aí.
Conta a lenda que a obra foi encomendada pelo conde Hermann Karl von Keyserling para seu cravista Johann Gottlieb Goldberg executá-la para que ele, o conde, rematado insone, pudesse adormecer pelas trinta repetições do tema, uma belíssima ária apresentada na introdução.
Glenn Gould o mais consagrado de todos os interpretes de Bach gravou duas edições das Variações Goldberg, a primeira em 1955 e a segunda em 1981, um ano antes do seu falecimento. Estas duas peças são obrigatórias no acervo de qualquer pessoa que goste de música de primeira linha. A audição das duas peças mostrará ao ouvinte pequenas e sutis diferenças nas interpretações; o mesmo pianista, separado por 26 anos de evolução, mostra o amadurecimento e o refinamento da sua técnica em situações que os ouvidos menos privilegiados jamais conseguirão notar, mas, para alguns telegrafistas são claras o suficiente para perguntar: será o mesmo interprete? Mais adiante essas mesmas sutilezas comprovarão: é o mesmo interprete, apenas mais refinado. E não restará mais qualquer dúvida, o ouvinte saberá a verdade, verdade essa oculta apenas aos moucos. Em telegrafia as minúsculas variações do timbre provocadas pela variação da potência chegam aos nossos ouvidos com uma clareza assustadora.
Os tolos e os muito tolos há anos tentam esconder suas traquinagens em contestes enviando o log como LP quando na verdade operam assim: CQ TEST DE PY2YP transmitindo com 100 watts; atendido por uma ou outra estação fazem alguns QSOs, ligam o linear e mandam: CQ TEST DE PY2YP CQ TEST DE PY2YP voltam várias estações, abaixam a potência para 100 watts e trabalham até esgotar a fila, voltam para 1 kW e chamam novamente, abaixam a potência e seguem assim durante os períodos de baixa que todo conteste tem. Durante os períodos de grande atividade as manobras são repetidas com 300 ou 200 watts mas quase nunca operam com os 100 watts regulamentares da categoria LP.
Esses operadores fazem essas manobras na doce ilusão de que no calor do conteste, no burburinho, na barafunda, ninguém perderá seu tempo ouvindo-os. Ledo engano. Todo DXer mesmo que não tenha muita paciência com conteste não deixa de corujar, afinal sempre pode aparecer uma ou outra figurinha, seja para um diploma mais específico, seja para uma zona que precise ou simplesmente pelo mero hábito de corujar. Qualquer um ao ler os resultados dos contestes se depara com algumas discrepâncias, resultados incoerentes com o fluxo solar e potência informada. Os velhos operadores sabem que os milagres, quando acontecem, são sempre acompanhados de falcatruas. É inexorável.
Conheço vários operadores de boa cepa que ao ouvi-los são capazes de dizer se a potência da manobra foi 5 ou 10 vezes em relação à potência declarada sem possibilidade de erro; embora a tessitura da telegrafia de uma mesma estação permaneça sempre a mesma, o timbre varia com a potência, isto é física, não há como escapar. O incremento da potência altera a forma da onda e a forma do envoltório da onda que, em última análise, definem o timbre. É óbvio que ninguém tem um vatímetro no ouvido, portanto, não é possível afirmar com que potência a estação está transmitindo, mas, pode-se afirmar com absoluta convicção que a estação aumentou a potência sem sequer olhar para o s-meter. Os tolos e os muito tolos bradam aos quatro ventos que são sérios, que nunca fazem isso, tentam convencer-nos. Inútil, perdem tempo, o deles e o nosso. Seriam mais bem sucedidos se ficassem calados, hirtos. Há até mesmo um operador que há anos, muitos anos é bom que se diga, pratica essas manobras, já foi alertado e admoestado várias vezes pelos seus pares, mas sua desfaçatez é intrínseca ao seu savoir vivre. Santé.
Post Scriptum: O galicismo ao final é deliberado.
73 DX de PY2YP - Cesar

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