sexta-feira, 2 de junho de 2017

Antena solar

Há algumas semanas recebi um e-mail de um amigo indonésio de longa data, meu primeiro QSO com ele foi em 1978 e vez por outra trocamos alguns QSOs em 20 metros CW. Ele esteve certa feita em São Paulo e tomamos uns tragos juntos discutindo a propagação entre Indonésia e São Paulo.
Beni, é esse seu nome, sabe do meu grande interesse pelos estudos de propagação principalmente em 80 metros que é de longe minha banda preferida. Quando comecei a trabalhar o 5BWAZ em 1997 ele me ajudou muito apontando as frequências menos ruidosas para que eu pudesse trabalhar as zonas 24, 28 e 29, que são algumas das zonas complicadas em 80. Beni foi o primeiro QSO com a 4 square na zona 28, eu havia escrito para ele contando dos meus estudos em montar uma antena grande e ele ficou vivamente interessado no resultado. Quando marcamos o sked para esse QSO discutimos bastante para marcar o horário. Para complicar um pouco, o QTH do Beni é na extremidade leste da Indonésia e o path para lá passa em cima do polo sul magnético, é basicamente a mesma propagação do Timor. Como sabemos, de meados de agosto a meados de maio a propagação é exclusivamente ao nosso entardecer, por outro lado, de maio a agosto, a propagação pode, em casos excepcionais ocorrer ao nascer do sol, nem muito antes nem pouco depois, tem que ser no máximo 15 minutos antes ou após o nascer do sol. Não considerar estas janelas apenas demonstra uma profunda ignorância na banda e ignorância não ajuda no QSO, tentar forjá-los fora dos horários é cair no ridículo. Nenhum operador decente de banda baixa ignora isso. Não adianta vir com arenga, lenga-lenga ou histórias da carochinha. Não fala e pronto.
No e-mail que o Beni me enviou recentemente ele disse ter ouvido um PY2 muito forte, estranhamente forte e resolveu me contar. Disse ele que estava corujando uma operação em Dili quando ouviu o PY2. Beni achou estranho ouvir PY àquela hora da noite, por volta das 20:40 local e resolveu anotar e ver o que estava acontecendo. No e-mail Beni me perguntou se há alguma antena nova, alguma teoria surgindo porque não seria possível, em condições normais, algo assim. Você sabe, disse ele, não ouso desconfiar de alguém daqui trabalhando um país para um PY pois somos ambos povos muito sérios com nível de trapaça e corrupção ligeiramente abaixo dos países escandinavos. Jamais pensaria em acusar nem um YB e muito menos um PY de estarem usando meios escusos para trapacear um QSO. Por favor, investigue as novas teorias de construção de antenas e me conte. Beni ainda perguntou se alguém teria montado algum protótipo bem sucedido da minha antena a gás. (V. Experimentações Teóricas de abril de 2013)
Como não poderia negar um pedido do velho amigo, tive que pesquisar bastante e descobri uma montagem de um búlgaro, um conhecido e honesto operador de banda baixa onde ele estava testando um protótipo de uma antena tocada a energia solar. Segundo consegui descobrir a antena tem a forma de um V invertido mas não usa fio, usa uma chapa de uma liga denominada Be-Ni-Cu, 22% de berilo, 12% de níquel e 66% de cobre. A chapa tem espessura de 0,5mm e largura de 42mm o que a torna flexível para poder ser enrolada à exemplo das utilizadas pelas antenas dinâmicas. O carretel é usado para sintonizar a antena no segmento desejado, isto é, para a porção de CW ou de SSB. A largura da fita é adequada tanto para receber a insolação quanto para tornar a antena o mais broadband possível. O ângulo de inclinação das pernas do V invertido deve ser tal que possibilite tanto a insolação máxima quanto manter a impedância o mais próximo possível de 50 ohms. Assim, para latitudes menores, mais próximas do equador, a antena tem menor eficiência dado a menor insolação - sol mais a pino e, portanto, com ângulo de incidência mais agudo - mas, por outro lado, as temperaturas maiores acabam por compensar a perda do índice de iluminamento. Nas latitudes mais altas o fenômeno é inverso. Por outro lado, a antena tem mostrado o seu melhor rendimento nas latitudes tropicais, isto é, +/- 5º da linha do trópico.
Logo após o nascer do sol, a antena começa a receber iluminação direta do sol e começa a aquecer, por volta de 2 horas e meia após o sunrise ocorre o fenômeno conhecido como ergoblaster quando toda a energia recebida pela antena é propagada com o incremento da temperatura da antena alcançando um fator de 20 dB; o baixo ângulo de irradiação faz com que o sinal passe por baixo da camada D, a esta hora já formada, e tenha seu primeiro skip a milhares de quilômetros de distância. Vale lembrar que após o sinal sofrer seu primeiro skip, encontrará a zona de plasma equatorial e seguirá via ducto para em seguida abandonar a camada e descer para a estação receptora à exemplo das conhecidas propagações F2F2, que como sabemos é completamente diferente da propagação 2F2.
Mandei a explicação para o amigo indonésio acompanhado de um croquis, foto de um protótipo que consegui arranjar por vias transversas e do indicativo da estação que a montou, tudo acompanhado de uma nota dizendo: mistery solved. Beni, respondeu apenas: indeed it is...
73 DX de PY2YP - Cesar


5 comentários:

  1. Fantástico caro Cesar !!!
    Saúde e paz !!
    fte 73 de Junior PR7AB

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  2. Engenhoso esquema
    Cabeça inteligente.
    73

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  3. hehehe sensacional (qsos impossiveis a luz do dia nem com essa fabulosa engenhosidade que veio da NASA ou será do NAZO kkkk) abraços sinceros do amigo e admirador da sua historia e feito --- 73 de PY7DJ

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  4. Those Magnificent Men in Solar Antennas! Brilhante Cesar, 73 PY5EW

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